Só uma janela aberta

Mesmo sabendo que falta métrica, que falta rima, que falta tempo, etc... Eu continuo escrevendo desse jeito, 2 quartetos e 2 tercetos. Tentando formar sonetos.

As vezes, uma brisa me sopra a nuca
Eu sei que é só a janela aberta atrás de mim
Mas prefiro acreditar que é você, sussurrando meu nome...
Em algum lugar

As vezes, assisto a um filme
Um romance com final feliz
E imagino ter escrito
Baseado a história que imaginei pra nós

As vezes eu choro
Quando lembro, quando penso;
Quando mencionam você

As vezes eu rio
Quando lembro, quando penso;
Quando sonho com você.

Eleanor

As vezes assusta ver os pássaros comendo o arroz na frente da igreja, depois do casamento, e logo depois vê-los voar pra longe, levando as bênçãos simbolizadas ali naqueles grãos. Mas sempre tem aquela tia velha e solteira que cata alguns e leva pra casa, pra todo casamento há uma tia velha solteira, ou todo casamento tem a sua Eleanor Rigby.

É engraçado pensar... O que é engraçado pensar? É tudo tão trágico que o riso insano torna-se a única expressão plausível naquele momento. Estérica ela ria do outro lado da rua da Igrejinha... Ah se eles soubessem. Ela não ria por motivo algum que eles pudessem supor, seu riso "descontido" era, na verdade, um urro de dor que se perdera e acabara saindo daquele jeito esquisito. Ela estava berrando de sofrimento e dor, os "rá rá rás" eram na verdade pedidos de socorro, e as lágrimas que escorriam ali então, eram as mais verdadeiras e tristes que nunca poderíamos imaginar.

- Olhem só, todas essas pessoas solitárias, de onde elas vêm? De onde elas são?

Fico imaginando o que os padres fazem quando não estão as nossa vista, quer dizer, será que eles se mantêm castos? Vejo pecado nos olhos de todas as pessoas solitárias, como vejo nos meus, vi um padre sozinho ao passar na frente da igrejinha, ele estava sentado na escadaria mexendo em suas meias... o que ele fazia? Será que ocupava a cabeça pra não ter pensamentos mundanos, iguais aos meus? Será que o pecado que achei ter visto na barra da batina era só pasta de dente? Será que ele se mantia casto?

Olhem só todos solitários, de onde somos? Pra onde vamos?

Todos deveriam saber, quando ela berrou daquele jeito e correu pra dentro da igreja, mas já havia ninguém lá, já não haviam pessoas solitárias como ela. A não ser, Mackenzi, acho que era esse o nome do padre das meias. Ela se ajoelhou enfrente ao altar, olhou pra-quela imensa cruz onde pendurada estava a imagem do nosso paladino... Ela derramou mais uma lágrima, e seus lábios arreganhados despenderam-se em seu rosto, ela olhou pra cima e caiu, caiu sem ver aonde. Durante o instante em que ela levou para sair de sua posição de fé e tocar o chão com seu rosto amargurado, o solitário padre Mackenzi se fez uma pergunta "será que eu não posso salvá-los como ele fez?" E ela tocou o chão com o rubor de seu rosto frio.

- Olhem só está pessoa solitária, quem ela gostaria de ser? Quem ela é?

Eleanor não tinha documentos, não tinha nada que lhe pudesse chamar Eleanor Rigby,Mackenzi foi quem escolheu assim. Ao fim daquele dia ele mesmo a enterraria, com suas mãos ele cavou a terra até que fosse tão fundo que as raízes das ervas daninhas ou do gramado não pudessem alcançar o corpo daquela que ele chamou Eleanor. Trabalho cumprido, ele a enterrou e disse em voz baixas algumas palavras que sempre dizia, mas na verdade pensara "mais uma alma que eu não pude salvar".

- Veja só mais uma pessoa solitária. Quem é você? Quem sou eu?

O Conto do Navegante. Primeiro relato do Caderno de dentro do berço. (cáp.VIII)

"Eu falo como se não me importasse, como se não ligasse os fatos ao que escuto ela dizer. Eu sei de tudo, tudo, sem exceção. Mas não posso usar nada do que sei. Eu sou terrível  o pior dos seres humanos. Eu falo como se não me importasse, como se não doesse. Mas dói, dói muito mais do que um dia eu imaginei que pudesse doer. E eu que já sofri o inferno na terra... Busquei o paraíso e acabei perdido... Não sei onde estou, é escuro, vazio e cheio de dor... E como dói... Não sei onde estou, não sei de nada... Eu achei que sabia, achei que entendia... Eu estava errado. Não achei que um dia fosse usar essa expressão, mas é a única que me parece plausível "eu estava errado"... Não, "eu estou errado". Errado, sozinho, perdido, perdido, perdido... E cheio de dor... E como dói... Buscar o paraíso e acabar perdido... Me repetindo... Cheio de dor. Eu falo como se fizesse alguma diferença... Falo como se ela se importasse... Como se ela me importasse... Já nem sei quem ela é... Mentira. Eu sei sim, sei mais dela do que de mim. E mesmo assim não sei de nada... Eu não sei de nada... Eu tô perdido... Perdido... Perdido... E como dói... Como eu não achei que pudesse doer... Como se alguém se importasse... Eu falo como se eu me importasse se alguém se importasse... Mas e se alguém se importasse... Me importaria? Mais que raiva! Eu tô perdido. Me repetindo... E dói... E como dói... Eu falo como se não ligasse os fatos... Como se não montasse o quebra-cabeças na minha cabeça perfeitamente... Que raiva! Eu nem sei se isso "tá" certo. Olha só o quanto que eu escrevi... Olha só o quanto que eu falei de mim... Eu, eu, eu, eu, eu, eu... Um parágrafo infinito só falando sobre mim. Eu, eu, eu... E me repetindo. Como eu sou egoísta! Que raiva! E ela... Como será que está? Mesmo me dizendo tudo eu não consigo entender... Não como eu entendo tudo e todos a minha volta... Ela é diferente, desde o inicio, sempre foi. Que diabos! Ódio! Amor! Que diabos que eu sou?! Eu já falei, estou perdido, per-di-do! E dói! Eu acho que entendo os sinais, mas de que me adianta entender o corpo se não entendo a cabeça? Eu acho que entendo os sinais, mas de que adianta se eu não sei o que fazer com eles? Eu acho que sou o maior egoísta que já existiu, não consigo parar de falar de mim. Leoninos... Só que não é assim. Não deveria ser! Eu não sou só mais um leonino! Eu não sou só mais um! Eu não sou... Eu só sei conjugar os verbos na primeira pessoa do singular. Não é egoísmo, deve ser culpa de uma professora minha da oitava série que me ensinou sobre literatura a primeira vez e me disse que a forma mais bonita, pra ela, de poesia era a romântica, quando o eu lírico falava do que sentia para a pessoa amada. Mas eu nem tô escrevendo pra ela ler... Apesar deu saber que mais cedo ou mais tarde ela vai acabar lendo. Eu não estou usando o pronome pessoal do singular da segunda pessoa, ela é só a terceira pessoa que provavelmente nem vai entrar na conversa. E do que eu falava mesmo? Cá estou eu, outra vez... Perdido... E dói... Eu, eu... Só eu, aqui... No escuro, no frio, no vazio. Só eu e meus pensamentos mundanos, só eu e minhas questões. Só eu e essa saudade que me aperta o peito. Só eu e essa vontade de mostrar pra ela o quanto a amo. Mesmo sem saber o que é o amor... Ela acha que sabe mais do assunto do que eu. Vai saber, talvez ela saiba mesmo. Mas se começou a ler isso, talvez nem chegue aqui, e se ligou os fatos - apesar de não terem sidos diretamente listados - nunca vai ter certeza. Porque ela é igualzinha a mim, o que é muito estranho dizer, nunca achei isso possível, Ela é indecisa, insegura, imperfeita, seria uma ótima mãe. Já falou algumas vezes sobre ter filhos - na verdade, falou muito vezes - mas Freud me ensinou a ligar os fatos aos atos - eu sei o porque dela pensar nisso agora e esse não é um bom motivo. As vezes eu sou tão emotivo, tão ridículo, que dá raiva de mim, ódio! As vezes eu pareço uma parede, não é que nessas horas eu não sinta nada, é que certas coisas me paralisam, o medo me paralisa. A dúvida me paralisa. Eu espero que ela não leia isso, espero que olhe e perceba a extensão das minhas palavras e não tenha coragem de ler... Sinceramente, só tô escrevendo pra mim e pra você que tá lendo - você que provavelmente só sou eu mesmo. Me desculpe a fonte, mas também faz parte do plano de não incentivar que ela leia. "Mas por que publicar se não quer que ela leia" apesar de serem ideias particulares, essa é a minha arte, mesmo que eu não vá mostrar pra ninguém. Isso nem se quer faz sentido pra mim... Mas certas coisas são como são. Eu sou assim, perdido. E sinto essa dor que nunca havia imaginado. Esse sou Eu e somente EU. E EU sou um personagem fictício criado pelo autor, que não tem nada a ver com nada que ele já tenha vivido. Esses aqui são os meus sentimentos de personagem... Qual a minha estória? Sou só uma criança perdida no Limbo."
- A Criança não batizada(retirado de "O Conto do Navegante", 2013 - Andrews Nycollas)

Deu vontade de dividir um pedaço do meu livro, que agora tem nome...

"Chove, como sempre, quando eu quero chorar e não choro... Chove. É culpa minha, podem dizer que não, podem achar que é loucura, mas eu sei. É culpa minha. 'Mas você nem sabe o próprio nome' você pensa, mas não diz, porque tem medo. Meu nome não importa, só importa a tristeza, minha tristeza é que fertiliza o solo, por isso aqui nascem flores."
- O Homem sem nome. (Anne no mundo das coisas perdidas - Andrews Nycollas)

O Leão

De raiva o Leão rúgio 
O Leão chorou de raiva 
Tinha raiva da sua covardia 
Raiva de ser tão grande 
quando se sentia pequeno 
Tinha raiva do seu pelo impreciso 
da sua juba, na verdade 
Tinha raiva de ser como era 
Tinha raiva de ser covarde 

Postes, paredes e árvores.

Me deu vontade de jogar tudo pro alto e me jogar de lá. Por falta de coragem de socar as faces que me incomodavam eu soquei a parede, querendo feri-los, eu me feri. E eles não viram meu sangue escorrer, pelo menos. Eu não derramei lágrimas, não havia motivo, mesmo com toda aquela raiva... Raiva de mim. Soquei todas as paredes pelo caminho, árvores e postes não se livraram também. Minha mão está ferida, fui eu mesmo que me feri, por não ter coragem de ferir os outros.
"É demasiada essa vontade de não estar aqui... Essa mesma vontade de estar ai, seja ai onde for, do teu lado... em cima e por baixo... E nos teus braços... E tu nos meus.

Tenho    sono   e        não quero dormir
Tenho    livros e        não quero ler
Tenho    filmes e        não quero ver
         Músicas que não quero ouvir

Tenho um abraço ansioso pelo calor dos teus braços.
Tenho nos lábios o calor e vontade de me queimar nos teus.

Tenho fome... De ti.
Tenho ânsia... Da solidão."

Flores de Plástico

Mesmo sabendo que são de plástico, eu cultivo flores num vazo. Eu minto pra mim, mesmo sabendo que não é verdade, eu acredito. Um "Eu te amo." Como quando eu era criança, tomando banho de mangueira, apontava ela pro céu, apertava um pouco e fingia ser chuva. Como quando botava uma latinha no pneu da bicicleta pra fazer barulho e fingia ser uma moto. Ou quando canto no banheiro de olhos fechados e me imagino num palco gigante cantando pra milhares de pessoas com uma banda amada. Quando me jogo na cama de olhos fechados e, por menos de um segundo, pairo no ar fingindo estar me jogando de um penhasco para a morte. Morre um dia agora, eu me jogo na cama e fecho os meus olhos, com o vento da janela aberta eu tenho meu ar condicionado, com meu lençol de pano de rede eu tenho um abraço. E no vaso cultivo flores de plástico, "elas não morrem."

Crise de pouca Idade.

Talvez eu seja um velho que nasceu alguns anos depois do que deveria ter nascido. Isso explicaria todos os meus medos, a sabedoria que eu imagino ter, as dores no corpo, a falta de fôlego, o fato de já não ter amores, o fato de não ter forças de correr atrás dos que eu crio por um segundo nos olhos de uma bela garota qualquer que eu encontre... Talvez, eu seja um velho.

Pois é...


E se eu puxasse conversa, diria "oi, como estás?" e ela "Bem, e você?"... Provavelmente abreviando "Bem, e vc?"... Ou, quem sabe, "De boa, e tu?".
Eu responderia que estou bem também, mas na verdade estaria querendo dizer que estou mal por estar com saudades dela... Sem dizer isso, quando seria tudo o que eu queria dizer, a conversa terminaria com um "pois é..."

Pois é...

Promessa Quebrada

"As vezes, caminhando, me deparo com um espelho no meio do caminho e virado para mim. E eu que havia prometido não olhar mais pra trás, acabo olhando... Pelo reflexo do espelho. E sinto saudade."