"Versos de ninguém"

Ninguém me vê como me vejo em sonho
Ninguém me vê porque só sou um sonho
Um sonho mal sonhado, um conto não vivido
Ninguém me vê porque nem estou aqui
Eu estou por ai, mas não aqui
Estou procurando uma sala de estar
Onde eu possa estar o tempo inteiro
De pés pro ar sem devaneio
Eu estou procurando alguém
Pra estar do meu lado em meus sonhos
Alguém que viva a realidade
E que me encha de saudade
Por não poder ver-la durante um piscar de olhos
Mas não adianta a procura
Esvairada de dor sem cura
Pois ninguém me vê durante essa busca
De mil lugares dentro da minha sala
Ninguém me vê por ai buscando
Um certo alguém que eu nunca vi
Ninguém me vê por ai
Pois por ai já não estou
Eu estou por aqui e longe do resto
Estou sentado precisando de um médico
Alguém que me cure desse mau trilhar
De letras vazias que eu mal posso rimar
Mas creio que não possam ouvir
Meus versos cantados e tão mal gritados
Que jogo ao vento simulado de um eletrodoméstico
De poesia que perco falando sozinho
Repetindo o que escrevo em tempo real
No tempo em que vivo onde tudo é banal
Em meus versos me encontram sem nem procurar
Em mil versos eu conto todo o meu pesar
Por niguém me ver mesmo se eu gritar
Por ninguém notar que podia eu lá estar
Quando já não estou ninguém sente falta
Pois eu nem estive lá pois ninguém me viu
Ninguém me vê e nem mesmo eu
Posso afirmar por onde estive
Esse tempo todo me vejo perdido
Na sala de estar da minha casa vazia
Na sala da mente de um poeta demente
Que nem sente a sua pele queimar em tempo quente
Ninguém me vê pois eu nunca acenei
Com um abanar de patas ao vento fiel
De outros lugares onde estive sem estar
De viajens longas que mal posso contar
Por nem se quer ter alguém pra ouvir
Ninguém me vê pois não procuro me mostrar
Desse jeito vazio e cheio de pesar
Ninguém me vê, pois não quero que vejam
E ainda assim me ponho a mostrar
Todo esse meu sonho e todo o meu desejo
De mil versos cantados em uma canção de ninar
Que nenhum pode cantar
Nem mesmo eu que a fiz a sonhar
Se ninguém me vê como posso saber
Se estou aqui vivo mesmo sem você
Que eu nem conheço, mas que quero tocar
Com minhas palavras e meus sentimentos
Esse peso de nada que carrego nas costas
E toda a minha dúvida que arrasto em corrente
São mais utilitários inúteis da mente
De poeta demente jogado na sala

Ode ao Pequeno Sonhador

Era uma vez um pequeno sonhador;

Que, certa vez, preferiu dormir por horas a mais.

Ele não sabia que um dia;

Seria cantado em versos deste trovador rapaz.

'

Está ode que voz canto;

Vem em pranto e esplendor;

Vem de um sonho que sonhou;

Vem do sono sonhador.

'

Está ode que voz canto;

Com encanto versos doces;

De um conto sonhado;

Em um sonho sonhador.

'

Em seus sonhos pequenos;

O pequeno sonhador inspirado;

Cantava odes de seu próprio pensamento;

De si próprio inventado.

'

Caminhando dentre as nuvens;

A correr céus e mares;

Velejar ventos e trovões;

Levando a mão uma harpa de sonhos.

'

O pequeno sonhador;

Soltava trovas de rancor;

Lançava versos de emoção;

Cantava odes de amor.

'

Aventuras vivia e viveu;

Por muitas noites o pequeno plebeu;

Por muitos sonhos que correu;

Num certo deles que morreu.

'

Nesta ode que voz canto;

Venho a derramar meu pranto;

Sobre min’harpa e meus dedos;

Pois chora minh’alma e meus medos.

'

Se fora em ode, oh! Sonhador.

Se fora em versos, oh! Trovador.

Se fora de vez, oh! Pequeno.

Se fora aventurar-se sem veneno.

'

Agora o vento sopra seus sonhos reais.

Já não vive mais, pequeno sonhador;

Mas ainda sonha, e trova trovador.

Suas odes que canto em pranto e amor.