Flores de Plástico

Mesmo sabendo que são de plástico, eu cultivo flores num vazo. Eu minto pra mim, mesmo sabendo que não é verdade, eu acredito. Um "Eu te amo." Como quando eu era criança, tomando banho de mangueira, apontava ela pro céu, apertava um pouco e fingia ser chuva. Como quando botava uma latinha no pneu da bicicleta pra fazer barulho e fingia ser uma moto. Ou quando canto no banheiro de olhos fechados e me imagino num palco gigante cantando pra milhares de pessoas com uma banda amada. Quando me jogo na cama de olhos fechados e, por menos de um segundo, pairo no ar fingindo estar me jogando de um penhasco para a morte. Morre um dia agora, eu me jogo na cama e fecho os meus olhos, com o vento da janela aberta eu tenho meu ar condicionado, com meu lençol de pano de rede eu tenho um abraço. E no vaso cultivo flores de plástico, "elas não morrem."